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DiÁrio

de bordo

DIÁRIO DE BORDO

Segunda-feira, 14 de maio de 2018

 

A ansiedade já tomava conta do corpo inteiro. O então projeto escolhido há mais de um ano finalmente estava prestes tomar forma. Parecia até mentira que o grande dia enfim havia chegado. E chegou, mas chegou junto com uma grande responsabilidade. Primeiro por ser o primeiro grande desafio da minha carreira em um lugar distante, sem conhecidos e sem apoio de equipe ou algo do tipo. Segundo pela gravidade do tema. Falar sobre vítimas de um acidente tão brutal é muito delicado. Sabia que seria necessário tomar muito cuidado pois há uma linha tênue entre uma história bem contada e outra que extrapole. É mais fácil chegar ao sensacionalismo do que se imagina.

 

A expectativa era de encontrar mulheres fortes, que sofreram ou sofrem até hoje, mas que dia a dia se superam e encontram seu lugar no mundo. Naquele momento já não havia mais volta. Faltavam duas horas para o embarque da minha maior missão como jornalista até o momento. A expectativa em desempenhar bem o meu papel e conseguir contar a história dessas mulheres de maneira sensata e fidedigna falava mais alto que eu. Começava ali uma semana repleta de adversidades e de muito aprendizado. Vou contar neste espaço todos os bastidores e desafios da reportagem. Claro, com a licença poética do ícone Caco Barcellos, criador deste bordão, que faz parte da abertura semanal do Profissão Repórter.

Cheguei em Belém após 6 horas de viagem. A bateria e o cansaço não permitiram que eu fizesse um vídeo da minha chegada. A curiosidade para conhecer o lugar que tanto esperei continuava, mesmo já sendo madrugada.  Gosto de ter uma visão da cidade pelos locais, por isso, gosto muito de conversar com garçons, motoristas, etc. No caminho até o hostel, fui sondando o motorista a falar mais sobre os pontos altos e baixos da capital. Carlos Tadeu, em uma viagem de não mais que 15 minutos, conseguiu me passar uma visão resumida da Belém atual.

 

A cidade passou por uma onda de violência nas últimas semanas. A guerra entre milicianos e policiais deixou quase 50 mortos e foi destaque nos principais veículos de comunicação do país. O motorista fez questão de me tranquilizar ao afirmar que aquela semana estava bem mais “suave” em relação à violência. Alertou-me sobre quais bairros eu poderia circular com mais segurança, e sobre quais eu não deveria sequer chegar perto. Salientou também a importância de estar sempre em alerta, mesmo que de dia, e sempre portando poucos utensílios. Nada que um bom carioca não consiga dar conta. Tadeu disse que quanto menos eu parecesse de fora, melhor. Parece que esse tipo de comportamento vem se tornando regra no violento Brasil que vivemos atualmente.

 

Terça-feira, 15 de maio de 2018

 

O primeiro dia de trabalho já começou com dificuldades e algumas dúvidas. Entrei em contato com um estudante de jornalismo da Universidade Federal do Pará, que já havia produzido e escrito uma reportagem sobre as vítimas de escalpelamento para a revista interna da universidade. Sou alertado por Jordan de que a Orvam, uma das principais organizações que trabalham em prol das vítimas de escalpelamento, possui um relacionamento relativamente estranho em relação às integrantes. De acordo com o futuro jornalista, a ONG trata as meninas como se fossem de sua propriedade. Jordan entrevistou as vítimas na Orvam no último ano, durante a gestão anterior. Acreditei que seria diferente comigo, pois fui atendido prontamente pela atual presidente Darci Lima. Era esperar para ver. Jordan também me enviou uma lista de contatos, para que eu conseguisse falar com as vítimas sem precisar passar pela ONG, em caso de uma possível resistência.

 

Enquanto agilizava e estudava para as entrevistas do dia, decidi parar um pouco para conversar com a recepcionista do hostel. Tentei entender um pouco da visão do cidadão de Belém sobre o escalpelamento. Carla Fischer me contou que a relação dos paraenses com os rios é muito forte. Esse é o ponto inicial para que a gente consiga entender toda a engrenagem do acidente. Questionada sobre a necessidade de proteção no motor, a recepcionista acredita que os acidentes não acontecem por falta de informação, pelo menos em Belém. Fischer afirma que a maioria das pessoas imagina que o acidente nunca irá acontecerá com elas. Relatou ainda um caso recente que vivenciou enquanto viajava para a cidade da sua avó, no interior do Pará. Carla estava sentada no barco, quando se deu conta de que estava com o cabelo solto e bem perto do motor. Por sorte, a embarcação ainda estava parada. O suficiente para percebermos que a distração pode ser fatal. Principalmente para quem tem o barco como principal meio de transporte. Se o motor já estivesse ligado, a história de Carla poderia ter terminado de modo trágico.

 

Ainda no final da manhã, a Coordenadora da Mobilização Social da Secretaria Estadual de Saúde Pública do Estado do Pará, que também é responsável pela Comissão Estadual de Enfrentamento aos Acidentes com Escalpelamento, entrou em contato comigo para podermos agendar o horário da entrevista. Acreditei que seria uma pessoa de difícil acesso pelo alto cargo que ocupa. Talvez fosse preciso precisaria arranjar uma brechinha na sua agenda para poder entrevistá-la. Muito pelo contrário, Socorro me atendeu prontamente em seu gabinete com toda paciência e atenção do mundo. Confesso que fiquei muito surpreso, de uma maneira positiva. É muito difícil ser levado a sério ao tentar fazer determinadas entrevistas ainda como acadêmico de jornalismo. A dificuldade muitas vezes é triplicada quando falamos o propósito da matéria ou reportagem. Para os entrevistados, muitas das vezes, aquela entrevista não trará resultados ou visibilidade. É possível perceber também o preconceito velado em relação à competência. Como se o estudante não fosse capaz de colocar em prática o que aprende na universidade. Acredito que isso ocorra também com estudantes de outras áreas.

Sede da Mobilização Social, onde a Comissão de Estadual de Enfrentamento aos Acidentes com Escalpelamento está inserida.

Voltamos à entrevista com Socorro. Antes de começarmos a gravar, a marajoara decidiu me contar tudo que acontece por trás do escalpelamento. Quando surgiu, por quê acontece, quem são os afetados. Segundo Socorro, é importante contextualizar o tema para quem vai falar sobre o assunto. Foi uma verdadeira aula, vindo direto de uma pessoa que conhece de perto a realidade do escalpelamento e o sofrimento da população ribeirinha. Por ter nascido na região do Marajó, Socorro consegue entender de maneira clara todos os aspectos relacionados ao acidente. Por este motivo, foi colocada à frente do desafio de tentar zerar o número de acidentes com escalpelamento no Pará.

 

Após mais de duas horas de conversa, a assistente social, condecorada pela Marinha do Brasil pelos seus esforços no combate ao escalpelamento, decidiu me mostrar todos os prêmios que havia conquistado. E não foram poucos, ein? Disponibilizou também um “Cd” contendo todas as campanhas de prevenção realizadas pela Sespa nos últimos anos. Entre elas, a mais famosa, que trouxe a atriz Dira Paes como embaixadora na luta contra o escalpelamento. Na sala, onde trabalham mais cinco pessoas de sua equipe, há a presença de um modelo do protetor do eixo de motor, aquele oferecido pela Marinha do Brasil. Socorro aproveitou para me mostrar algumas fotos das acidentadas. São registros ainda mais chocantes do que aqueles vistos em pesquisas na internet. Fiquei ainda mais impressionado com a gravidade do acidente que mutila partes do corpo das ribeirinhas.

 

Por fim, me forneceu o material de prevenção utilizado pela Sespa. Entre eles cartazes, panfletos e até uma camisa. O objetivo era de distribuir para os presentes em futuras palestras e apresentações que eu viesse a fazer sobre o tema. Por mais distante que seja o Rio de Janeiro, é importante que mais pessoas saibam sobre o escalpelamento e até possam ajudar as vítimas de alguma forma. São inúmeras formas de ajudar as vítimas e as organizações que trabalham para zerar o número de acidentes. Qualquer forma de ajuda é muito bem-vinda. Fui embora do gabinete com a sensação de dever cumprido e de ter compreendido em grande parte o que é o escalpelamento que eu tanto havia pesquisado.  Conseguia enxergar o acidente com outros olhos, por uma nova perspectiva. Chegava ao fim do meu primeiro dia de entrevistas.

 

Quarta-feira, 16 de maio de 2018

Após o motorista do Uber se perder, por mais de uma vez, cheguei atrasado até o espaço da Orvam, no bairro de Castanheira. Ao chegar, ainda afobado, fui surpreendido pela secretária da ONG solicitando uma espécie de ofício. Alessandra Almeida disse que eu precisava deste documento para poder realizar a entrevista com a Larissa. Em um primeiro momento fiquei sem entender do que se tratava. De todas as entrevistas que realizei, nunca havia ouvido falar desse termo. Confesso que o nervosismo e o medo de ser impedido falaram alto. Mas sabia que teria obstáculos durante o trabalho e que seria necessário enfrentá-los. Com muita calma, esclareci toda a proposta do meu trabalho. Já havia falado anteriormente com a presidente, Darci Lima, mas ela não chegara a tempo na Orvam. Aos poucos, Larissa e Alessandra foram ficando mais confortáveis com a minha presença e a secretária me deu um voto de confiança: Permitiu que eu enviasse o oficio por email.

 

Posteriormente, descobri que se trata de um documento básico. Nele estão presentes informações como a instituição para o qual o jornalista trabalha, quais são os interesses da reportagem, entre outros detalhes. A presidente, que chegou posteriormente, me informou que eu teria dificuldade em contatar profissionais da Santa Casa, por exemplo. Seria cobrado o mesmo oficio, por se tratar de uma instituição pública. Fiquei preocupado e entrei imediatamente em contato com o meu orientador, Francisco Malta. Chico, como é conhecido, prontamente redigiu uma carta com as minhas intenções, além de me enviar um termo de autorização de voz e imagem.

Registro da minha entrevista com Larissa Paixão. (Foto: Alessandra Moraes)

A entrevista com a Larissa ocorreu da melhor maneira possível. A jovem é uma fonte de inspiração para todos nós. Terminado o nosso papo, surge um dilema para o repórter totalmente inexperiente. A reportagem em si, nos oferece diversos caminhos distintos. Na maioria das vezes não temos tempo e devemos fazer escolhas em um curto período de tempo. Não dá nem tempo de pensar nas consequências. O que a gente tenta é calcular o risco e fazer uma aposta mais certeira. É contar com a sorte e acreditar no nosso instinto de jornalista. Passei por uma situação que me deixou em dúvida e precisei agir rapidamente.

 

Recebi uma mensagem da Socorro Silva, a entrevistada do dia anterior. A coordenadora da Mobilização da Sespa me convidou para fazer uma visita ao Espaço Acolher, local onde as escalpeladas se recuperam após passarem pela Santa Casa de Misericórdia. Prontamente aceitei o convite. Socorro me adiantou que existe uma espécie de cerimônia semanal com as vítimas e suas famílias no Espaço. Seria a oportunidade perfeita de conhecer mais uma história, incluindo a da última vítima registrada: Uma menina de 14 anos e única acidentada em 2018. Lembra quando eu disse acima que a reportagem nos oferece caminhos? Então.

 

Após confirmar com Socorro minha presença na cerimônia do Espaço Acolher, a presidente da Orvam me disse que uma integrante da ONG estava a caminho. Arlene Prata seria uma ótima personagem para a minha reportagem, de acordo com Darci. O problema? Arlene chegaria na sede da ONG às 15h e o compromisso no Espaço Acolher teria início às 15h30. Será que daria tempo de fazer as duas coisas? Provavelmente não. 30 minutos não seriam suficientes para uma mulher contar a história da sua vida, eu conseguir chamar um Uber e chegar a tempo no destino que ficava do outro da cidade. Resolvi arriscar e mandei uma mensagem para Socorro avisando que não a encontraria na Sespa, conforme havíamos combinado. Iria encontra-la direto no Espaço Acolher. Expliquei da entrevista com Arlene e disse que provavelmente chegaria bem atrasado para a cerimônia. Me restava torcer para dar tudo certo.

 

A sorte então sorriu para mim e Arlene chegou bem, bem antes do esperado. Chegou com um sorriso no rosto e queixando-se de dor de cabeça devido à combinação do calor com o cansativo trajeto de ônibus. Apesar da queixa, Arlene chegou exalando energia e autoestima. Bem que a Darci e a Alessandra haviam me falado que ela era diferenciada. Sabe aquele ser humano iluminado? Essa é a Arlene. Uma mulher que sofreu muito durante a vida e supera seus obstáculos diariamente, sempre com muita fé em Deus. Nossa entrevista foi marcada por um papo descontraído, sem vitimismo e com muito bom humor. Arlene é uma daquelas personagens únicas, é cheia de carisma e chama atenção por onde passa. Consegue tirar o melhor de cada situação e nos mostra que a vida é curta e deve ser vivida intensamente.

Terminada a entrevista, chegava a hora de partir para o Espaço Acolher. De ônibus, o percurso pode durar até duas horas em um veículo completamente sucateado e sem nenhuma segurança. De carro, o trajeto levaria menos da metade do tempo. A previsão era que eu chegasse ao destino em 30 minutos e o ponteiro do relógio ainda não marcava 15h. Portanto, se tudo corresse conforme o previsto, chegaríamos bem a tempo da celebração no Espaço Acolher. Ao falar que chamaria um Uber, Arlene me pediu uma carona para voltar ao Espaço.  Sem entender o porquê, ela me explicou que estava lá e havia viajado quase duas horas de ônibus somente para me conceder a entrevista. Fiquei comovido com sua determinação em me ajudar. Com toda certeza, seria um prazer ter a sua companhia no trajeto de volta até o bairro do Umarizal.

 

Arlene considera o Espaço Acolher como sua casa em Belém. Ela mora em Breves, um município distante na região do Marajó, que fica a 12 horas de distância de barco da capital. Quando necessita ir até Belém para consultas, por exemplo, precisa passar a noite no Espaço. Trata-se de um local voltado para pessoas em processo de recuperação, seja de escalpelamento, pós-parto, etc. O Espaço Acolher também abriga pacientes da Santa Casa que moram em regiões mais afastadas de Belém. Elas precisam comparecer a consultas na capital, mas não possuem casa de parentes ou amigos para se hospedar.

 

Após muita conversa no Uber, descobri que Arlene adora uma festa. É fã de brega, adora dançar e não dispensa uma boa ice, bebida feita de limão. Heavy user de redes sociais, está presente em todas que eu conheço. No papel de parede, a foto com os filhos dos quais tem tanto orgulho. Estava animada para me apresentar a todos na sua “casa”. Após pouco mais de 20 minutos de trajeto, enfim chegávamos ao Espaço Acolher.

Ao chegarmos, fui apresentado à Dona Luzia, assistente social que coordena o Espaço. Foi muito simpática e disse que a atividade estava prestes a começar, mas que poderia conversar e me conceder a entrevista logo depois no seu escritório. Estávamos no horário e Socorro ainda não havia chegado. Arlene decidiu me levar para conhecer as instalações do Espaço Acolher. Foi quando conheci uma de suas amigas, também vítima de escalpelamento. Com um semblante desconfiado, Maria José era o oposto da Arlene. A timidez era nítida e a marajoara ainda era receosa em falar sobre o acidente. Aceitou falar comigo depois do incentivo da Arlene. Maria sofreu o acidente aos 41 anos e nunca ouvira falar sobre escalpelamento. Nossa conversa não durou muito e eu me preocupei em escolher cada palavra com muito cuidado O depoimento foi gravado em um lugar quente, com pouca luz e com um barulho de obra capaz de tirar qualquer um do sério. Assim que acabou a conversa, percebi que a lapela não estava bem encaixada no celular. Erro meu que prejudicou demais o áudio. Maria falava muito baixo e o ruído no ambiente era muito alto. Combinação bombástica para detonar a qualidade do material. Na ânsia de gravar o depoimento, também deixei de registrar uma fotografia. Dois erros que até hoje não saíram da minha cabeça.

 

Após a entrevista, cheguei à celebração e vi pela primeira vez as duas jovens acidentadas. A faixa etária das duas era bem parecida. Uma com 11 e a outra com 14 anos. Ambas estavam acompanhadas das mães e com a cabeça enfaixada. Marlene e Maria (nomes fictícios) haviam passado por diferentes procedimentos reparadores. Enquanto uma estava recém operada de um enxerto com pele da coxa, a outra havia inserido um expansor. A partir desse momento surge um grande conflito ético para mim: Entrevistá-las agora? São muito novas para passar por um trauma dessa magnitude e ainda vão precisar falar sobre? Tão pouco tempo depois? Não seria exigir demais de crianças? Foram algumas das reflexões que pensei no momento. Tomei a decisão de ir falar com a mãe das meninas após o encerramento da atividade.

 

Fiquei com essa questão martelando na minha cabeça, mas precisava prestar atenção no que a professora Denise estava falando.  Poder participar da Roda de Sentimentos da Classe Hospitalar, cerimônia da qual Socorro havia me falado foi incrível. A assistente social chegou a tempo do início dos trabalhos. A atividade acontece todas as semanas e tem o objetivo de abordar assuntos para além da sala de aula com as alunas. É uma oportunidade de as educandas enxergarem o mundo de outra forma, sem contar da possibilidade de interagir com outras pessoas. Ao comando da professora Denise e da psicóloga Priscila, realizamos uma atividade onde cada um deveria ler uma frase e falar sobre o sobre o que sentia em relação à sentença. Foram relatos incríveis vindo das meninas, de suas famílias e de todos que estavam na Roda. Além da equipe multidisciplinar do Espaço, participaram os membros do curso de jornalismo da UFPA, que produziam uma matéria interna sobre o assunto e a coordenadora da Mobilização Social, Socorro Silva, a responsável por eu estar naquela sala.

Um momento me chamou atenção e comoveu a todos que estavam na roda. Arlene ao falar sobre sua recuperação, emocionou-se e decidiu cantar um louvor evangélico que diz muito sobre sua trajetória. Todos na sala entoaram juntos a canção “Ressucita-me”, da cantora gospel Aline Barros: Assista abaixo:

Fim da atividade e todos seguiram para o lanche. Aproveitei para conversar com a psicóloga Priscila Soares. Naquele pequeno intervalo ela me deu uma breve descrição sobre a estrutura do Espaço e qual função cada um desempenhava ali. Quando me dei conta, já estava muito tarde, e as meninas, assim como as mães, já estavam recolhidas em outro ambiente. Não conseguiria mais falar com elas naquele dia. Pensei em voltar outro dia para tentar uma aproximação.

 

Segui então para a sala da Dona Luzia, como é conhecida por todos no Espaço Acolher. Fui muito bem recepcionado, e assim como Socorro no dia anterior, recebi mais uma aula sobre o escalpelamento. Após uma hora de conversa, voltei para a sala da Classe Hospitalar e consegui fazer uma entrevista com a psicóloga Priscila. Além dela, estava presente na sala a professora Rita Rosa. Apesar de estar de saída, Rita me passou boas dicas sobre Belém e disse que eu poderia voltar para entrevistá-la na sexta-feira. Foi a deixa para que eu pudesse voltar no Espaço e, quem sabe, tivesse uma oportunidade de conversar com as duas meninas. Fim do dia mais cansativo e produtivo, desde a minha chegada em Belém.

Veja abaixo a galeria de fotos com alguns registros da quarta-feira:

Quinta-feira, 17 de maio de 2018

 

Deixei a manhã livre para conhecer Belém. Acordei bem cedo, mas em um primeiro momento, preferi ficar no hostel estudando e ajustando os detalhes para as próximas entrevistas. Queria minimizar a chance de cometer erros, como havia feito anteriormente. Planejamento é essencial para que as coisas tomem o rumo certo. A única entrevista do dia seria apenas às 16h, na clínica do renomado cirurgião plástico Victor Aita. Ele é muito querido pelas pacientes e tornou-se referência quando o assunto é escalpelamento. Aproveitei a manhã me preparando para entrevistá-lo. A responsabilidade em entrevistar alguém tão importante era grande. Decidi então ler algumas matérias e alguns artigos médicos falando sobre o assunto.

 

Enquanto estudava, o celular não saia da mão. Na tentativa de contatar mais fontes, um fator me chamou muita atenção. Encontrei resistência de algumas vítimas em falar. Já era algo de certa forma esperado, visto que grande parte delas ainda tem problemas de autoestima e não gostam de se expor. Algumas têm vergonha e medo de aparecer em entrevistas. Essa resistência em falar preocupa algumas organizações que trabalham em prol do escalpelamento. Há um consenso de que a sensibilização é a melhor forma de prevenção do acidente. É importante que essas vítimas estampem campanhas e deem entrevistas para que haja uma maior conscientização sobre o assunto.

 

Outra questão ainda me preocupava: Problemas com autorizações e protocolos. A burocracia parecia extrapolar qualquer realidade. Parecia que eu estava tentando gravar uma entrevista na Coréia do Norte, em determinados casos. Precisei enviar a carta de recomendação para um dos locais, desta vez, com a assinatura digital do meu orientador. Uma corrida contra o tempo para que toda a documentação estivesse em ordem antes do horário da entrevista com o cirurgião. Aproveitei para procurar uma lan-house e imprimir mais cartas e termos de autorização do uso de imagem e voz. Estar prevenido para qualquer imprevisto nunca é demais.

 

Chegou a hora então de seguir para a entrevista com o cirurgião plástico. Por intermédio da Dona Luzia, consegui uma brecha na atribulada agenda do Dr. Victor. Como se espera de um bom repórter, decidi chegar um pouco mais cedo para causar uma boa impressão. Estava receoso de não fazer perguntas à altura do nível médico, tão elogiado anteriormente por todas as pessoas que entrevistei. A clínica estava cheia e tive de esperar o último paciente do Dr. Victor. Tratava-se de uma criança com ferimentos por todo o corpo, que pareciam causados por um sério acidente com queimaduras. A inquietação do menino na sala de espera me deixou aflito. A situação só piorou quando ouvi os seus gritos de dentro do consultório. Devia estar trocando curativo, ou algo do tipo. Passados alguns minutos, era a minha hora de conversar com o médico.

 

Dr. Victor me recebeu com muita simpatia em seu consultório. As paredes repletas de diplomas confirmavam seu prestígio. Mesmo com o cansaço aparente, teve muita paciência e preocupação em me falar muito além das questões médicas. Políticas públicas, legislação e fiscalização foram alguns dos temas que conversamos sob a ótica do acidente. Aita fez ainda previsões otimistas em relação aos avanços da medicina no campo do escalpelamento. Me relatou o que está por vir e aproveitou para mostrar algumas fotos de procedimentos realizados por ele na Santa Casa. As imagens são fortes, mas a recuperação das vítimas é fantástica. A cirurgia plástica consegue reconstruir vidas e devolver a autoestima de pessoas como as que eu entrevistei. Por fim, entendi o motivo pelo qual as pacientes gostam tanto do Dr. Victor. Ele vai muito além de ser um profissional competente. É um ser humano que cuida de suas pacientes com muito amor. Fim de mais um dia em Belém, desta vez com apenas uma, entretanto, rica entrevista.

 

Sexta-feira, 18 de maio de 2018

 

Fiquei de encontrar a professora Rita Rosa pela manhã no Espaço Acolher. Seria a chance de entrevistá-la e de tentar uma aproximação com as duas meninas que ainda estavam se recuperando do acidente. Tomei um café da manhã correndo e segui de Uber para o bairro do Umarizal. Em dez minutos, eu já estava sendo recebido pela professora. Rosa estava com pouco tempo, pois havia marcado de encontrar um amigo na UFPA. Não conseguiríamos gravar a entrevista naquele momento, mas ela prometeu que me concederia por email mais tarde. Mesmo com pouco tempo, conseguiu me explicar um pouco sobre o projeto que realizou com as meninas dentro da Classe Hospitalar. Confira no vídeo abaixo:

Me dirigi para a sala da Dona Luzia, mas ela ainda não havia chegado. Acabei conhecendo a assistente administrativa do Espaço Acolher. Luiza é assistente social, mas não exerce sua profissão no Espaço. O escalpelamento é sua principal área de estudo e foi tema da sua tese de doutorado. Em pouco mais de trinta minutos de conversa, conseguiu me passar novas perspectivas sobre o acidente. Desta vez, consegui entender melhor as formas de prevenção, tema pelo qual Luiza se debruçou no doutorado. É curioso pensar que sempre quando eu achava que já sabia tudo sobre o escalpelamento, alguém me surpreendia com mais conteúdo, informação e curiosidades sobre o tema. Luiza pegou meu email e disse que me enviaria sua dissertação de mestrado para ajudar na minha reportagem. Fiquei muito agradecido pelo gesto da assistente social. Logo em seguida, Dona Luzia chegou à sede do Espaço Acolher.

 

Decidi então tirar algumas fotos da coordenadora. No dia em que a entrevistei, foquei apenas na entrevista por vídeo e assim que cheguei no hostel senti que precisava ter feito alguns registros. Comecei a fotografá-la e pedi permissão para falar com a mãe de uma das meninas que se recuperavam no Espaço Acolher. Pedido autorizado pela coordenadora, mas a Maria, última vítima de escalpelamento, estava prestes a sair para fazer um curativo na Santa Casa de Misericórdia. Decidi me apressar e quando me dei conta, estava frente a frente com sua mãe no hall de entrada. Muito tímida, falou que poderia sim falar com a reportagem. Confesso que foi mais fácil do que eu imaginava, mas assim que nos falamos, deixei muito claro o objetivo da entrevista e de que forma ela seria conduzida.

 

Seguimos então para o refeitório. Sentei-me de frente para Maria e sua mãe. Câmera no tripé, microfone conectado e termo de autorização assinado. Chegava a hora da entrevista que eu mais temia. Como aquela menina reagiria ao relembrar do acidente? Não queria fazer com que ela sofresse conforme fosse relatando o dia do acidente. Lembrei-me então de uma mensagem que o meu orientador havia me enviado ainda na quarta-feira, quando encontrei dificuldade em abordar as meninas. Chico me disse por mensagem de voz que como repórter, era importante que eu mantivesse um olhar mais frio. Apesar de estar na cena, precisava manter um distanciamento de observador. Mas que sim, seria incômodo para mim. Não sabia mesmo se eu estava pronto para fazer aquilo.

 

Comecei brincando um pouco com Maria, para que ela se sentisse mais à vontade comigo. Perguntei do que ela gostava de fazer, brincamos sobre o fato de eu ser um desastre em matemática e também revelei saber da sua capacidade como cantora. Quando já estávamos bem entrosados, decidi começar a fazer as perguntas que havia programado. Tudo aconteceu de uma maneira bem orgânica, sem muita pressão e nervosismo. Meu medo inicial foi inibido pela naturalidade e sinceridade da Maria. Relatou como foi o acidente e tudo que aconteceu em sua vida depois de ser escalpelada. Fiquei impressionado com a maturidade de uma menina que passou por um grande trauma há poucos meses atrás.

 

O curativo de Maria foi remarcado para a segunda-feira. Portanto, seguiria da nossa entrevista direto para a temida aula de matemática na Classe Hospitalar. Pedi autorização à professora para que eu pudesse acompanhar sua aula. Eunice, doutoranda em matemática, não só autorizou como me explicou a metodologia que utiliza dentro de sala. O foco vai além da matemática tradicional. A professora tenta mostrar para as meninas como aplicar os números na vida real. Unidades de medidas e monetárias foram alguns dos assuntos abordados na aula. Com o dom para ensinar matemática, a professora vai extraindo o melhor de cada aluna.

Oi

Professora Eunice Cajango leciona matemática para as educandas da Classe Hospitalar.

Em um determinado momento da aula, percebi que estava desviando o foco das estudantes. É difícil que tenha alguém de fora do Espaço Acolher acompanhando a rotina das meninas, portanto, é natural que algo dessa natureza aconteça. Decidi sair da sala para que não atrapalhasse o andamento na aula. Só retornei quando faltavam dez minutos para o fim. Meu objetivo era entrevistar a professora Eunice assim que terminasse a aula. A conversa foi bem esclarecedora e por fim, ela ainda me ofereceu uma carona de volta para o hostel. Não pensei duas vezes, só pensei que já eram 16h e eu só tinha tomado café da manhã naquele dia. A fome falava mais alto que qualquer outra coisa. Encerrava naquele momento o meu penúltimo dia de trabalho.

 

Sábado, 19 de maio de 2018

 

Mais um dia de sol e muito calor em Belém. O sábado estava reservado para conhecer os pontos turísticos da cidade e visitar a Ilha do Combu. O Combu fica a apenas 20 minutos de barco de Belém. Seria a oportunidade perfeita para fazer registros dos barcos circulando pelos rios da Amazônia. Acordei às 7h e fiquei aguardando uma amiga que conheci através de um ex-cliente, quando ainda trabalhava com assessoria de imprensa. Nayara Jinknss é fotógrafa e conhece praticamente tudo em Belém e adjacências. Ninguém melhor que ela para me levar aos principais pontos da cidade. A capital do Pará é uma das cidades mais perigosas do país, portanto, ter alguém comigo que conhece a região, definitivamente me deixou mais tranquilo.

Hora de conhecer Belém. Vamos?

Nayara me buscou por volta das 8h. Logo que entrei no carro ela percebeu que havia esquecido sua carteira. Seria necessário retornar à sua casa, mas como estávamos sem pressa, não tivemos problemas. Seguimos em direção à região de Ananindeua, cidade vizinha de Belém. São em média 20 minutos de carro de uma localidade a outra. Ananindeua tornou-se centro das atenções nas últimas semanas e foi destaque nos principais noticiários do pais. Os episódios de violência envolvendo milicianos e policiais militares deixaram quase 50 mortos e um clima de insegurança e medo na população paraense. Passamos por uma região do município que é identificada como área vermelha pelos moradores, ou seja, de alta periculosidade. Foi interessante ouvir Nayara contar um pouco sobre a realidade daqueles lugares. Consegui ter uma visão diferente daquela passada pela grande mídia. Voltamos para Belém e durante o trajeto, a fotógrafa foi me mostrando as regiões dominadas pelo Comando Vermelho. O Pará é o quarto estado mais violento do Brasil, de acordo com dados da 11º Anuário de Segurança Pública, realizado em 2017.

 

Já de volta à Belém, fomos direto conhecer o famoso mercado popular do Ver-o-Peso. Fiquei surpreso ao ver sua dimensão e a variedade de produtos expostos pelos feirantes. Da famosa essência da Bôta, passando pelas famosas castanhas do Pará, até a produção do Tucupi. Encontramos, por coincidência, a professora Rita Rosa, do Espaço Acolher. Fez questão de que eu provasse alguns sucos das frutas mais populares no Pará. Preferi o Taperebá, mas também gostei de cupuaçu e do bacuri. Rita fez questão de pagar a conta, cortesia de um bom paraense. Existem diversas setores com diferentes tipos frutas, temperos e ervas que fazem parte da cultura local. Fiquei impressionado com a áreas dos frutos do mar, do artesanato e da variedade de grãos à venda. A região dos perfumes, ervas e garrafadas é uma das que mais chama atenção. Cada essência, cada garrafinha tem um proposito: Seja para arranjar um amor, livrar-se dos invejosos, para melhorar a performance durante relações sexuais ou até mesmo para curar problemas intestinas.

Veja abaixo uma galeria com os melhores e mais curiosos momentos do Ver-o-peso:

Chegava a hora de conhecer a Ilha do Combu, que fica na região amazônica e a apenas 15 minutos de barco de Belém. O Combu vem sendo explorado comercialmente nos últimos anos e cresce de forma desordenada. Junto com a elevação do número de turistas, aumentam os problemas na localidade. O uso de embarcações de grande porte, por exemplo, é prejudicial aos ribeirinhos que vivem às margens do rio Guamá. O artista plástico Sebastian Tapajós trabalha no combate aos abusos cometidos na região. Criou o projeto Street River, que transformou o Combu na primeira galeria de arte à céu aberto na Amazônia. O trabalho consiste na grafitagem das casas com tinta biodegradável, o que traz um estilo único para as habitações e autoestima para os moradores. A seu convite, fomos conhecer o Combu e as futuras instalações do projeto.

 

Os desafios começaram logo no embarque. O barco estava posicionado cinco metros abaixo do cais. Escada? Que nada. Deveríamos descer nos apoiando nos pedaços de tábua e madeira da construção. As pernas tremiam, tudo balançava, mas no final tudo deu certo e eu consegui finalmente chegar ao barco. Estava ansioso para minha primeira viagem pelos rios do Pará. Por curiosidade, resolvi olhar o motor para verificar se a embarcação estava com a proteção no eixo do motor. Por ironia do destino, não estava. O motorista do barco alegou que o barco era novo e que providenciaria a proteção em breve. Seguimos por alguns minutos até chegarmos ao nosso destino. O caminho é absolutamente incrível. O visual me fez lembrar os livros de ciências da escola, cheios de figuras da flora amazônica. Com o vento no rosto, aproveitei para apreciar as grandiosas árvores à margem do rio Guaná. Pude observar também o grande fluxo de barcos andando a todo vapor.

Chegamos ao Instituto e fomos recepcionados por Sebastian Tapajós. Tapajós nos contou a história do Street River e qual o objetivo do trabalho com os ribeirinhos no Combu. Logo depois, nos levou para conhecer a parte dos fundos do terreno, com diversas frutas amazônicas. Provei Cacau direto do pé, colhi açaí (sem subir na árvore) e experimentei o Ingá, uma espécie de fruta com um caroço, digamos assim, gigante. Apesar dos sabores exóticos, gostei do gosto de cada uma. Chegava a hora do almoço e o açaí já estava sendo batido. Estava curioso em provar a principal iguaria da Amazônia e tão adorada pelos paraenses. O sabor é um tanto quanto amargo e os locais colocam bastante açúcar para melhorar o sabor. Parte do ritual consiste em colocar goma de tapioca ou farinha d’agua no açaí. Parece estranho, mas faz parte da cultura amazonense. Diferente da maioria das regiões, onde o açaí é consumido como uma vitamina, no Pará ele é incluído nas refeições, servido junto com alimentos como carnes e peixes.

Assista abaixo o vídeo do repórter tentando "colher" o açaí e acompanhe também uma galeria de fotos com as curiosidades e belezas da região amazônica.

Galeria

Depois do açaí, o sono vem com toda força. Decidi conversar com algumas pessoas que estavam trabalhando na obra do Street River. Me impressionei com o relato de um deles sobre um acidente de motor que havia acontecido com um amigo. Chama atenção por ter acontecido com um homem, quando de acordo com as estatísticas, apenas 2% dos acidentados são do gênero masculino. Assista abaixo:

Fim de tarde no Combu. Saldo de muitas fotos e vídeos das belezas e peculiaridades da Amazônia. Fiquei feliz ao gravar um flagrante de uma embarcação de grande porte circulando pelo rio Guaná. Enviei imediatamente para o idealizador do Street River. Segundo Sebastian, é muito importante ter este tipo de material para poder falar com as autoridades. 

Sebastian Tapajós durantes as obras do Instituto Street River.

Chegava a hora de me despedir com um entardecer digno da região amazônica. Antes de voltar ao cais, agora bem pertinho do nível da água, fomos abastecer o barco. Foi algo bem inusitado ver um posto de gasolina Ipiranga no meio.

 

Veja como funciona um posto de combustível para embarcações:

Eu e Nayara fomos tomar um chope de açaí para encerrar o expediente. O sabor não é dos melhores, mas a companhia foi excelente. Poder passar o dia ao lado dela foi incrível. Nayara é dona de um talento nato para a fotografia, mas poderia investir também na carreira de guia. Sabe tudo sobre o Pará. Fiquei muito feliz de contar com sua ajuda e parceria.

 

Domingo, 20 de maio de 2018

 

Deixei a manhã e tarde de domingo livres para qualquer imprevisto. Caso surgisse alguma oportunidade ou algum personagem novo, eu estaria disponível. Aproveitei a manhã para ir até à tradicional feira de artesanato na Praça da República. Grande parte dos comerciantes do Ver-o-peso montam suas barracas por lá. A número de visitantes é tão grande quanto a variedade de produtos que são vendidos por ali. Resolvi então comprar alguns itens considerados indispensáveis para alguém que vai até o Pará: Cachaça de Jambu, bombons com sabores da Amazônia, como cupuaçu e bacuri, e imã de geladeira de açaí. Achei impossível achar algo mais original.

 

Da feira, segui andando até a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do Pará. A devoção dos paraenses pela santa é conhecida nacionalmente e foi retratada recentemente na novela “A Força do Querer”, exibida pela Rede Globo. O Círio é realizado em outubro e é considerado uma das maiores manifestações religiosas do mundo. Mais de dois milhões de pessoas se reúnem no centro de Belém. A cidade para ao assistir o Círio passar e cria-se uma corrente do bem para que tudo ocorra da melhor forma possível. Ao chegar na rua da basílica, percebi um grande número de policiais armados na região, possivelmente devido à onda de violência que rondava a cidade. Decidi então acompanhar a missa da Basílica e agradecer a oportunidade de fazer um trabalho como este.Veja algumas fotos da Basílica de Nazaré neste link

 

De volta ao hostel, se aproximava a hora de me dirigir ao Aeroporto Internacional Val-de-Cans. Chegava ao fim a minha primeira grande aventura como jornalista. E tudo tinha acontecido exatamente da maneira que eu queria. Mesmo os imprevistos foram importantes para que tudo desse certo. Os erros foram fundamentais para que eu possa melhorar no próximo trabalho. Não consegui fazer algumas entrevistas pessoalmente, como por exemplo, com a tenente da Marinha que só poderia me receber a partir da segunda-feira, devido à um evento interno e com a psicóloga do Espaço Acolher, que estava viajando. Mas não tive problemas, ambas foram realizadas por email. Um salve para a tecnologia e para a globalização.

Após seis horas de viagem e debaixo de chuva, cheguei ao Rio de Janeiro com o coração leve e cheio de gratidão. Gratidão por ter conhecido a história de mulheres incríveis, que mesmo diante de um grande trauma em suas vidas, arranjaram motivação para seguir em frente e voltar a sorrir, cada uma do seu jeito. Me ensinaram que não importa o tamanho do desafio, com fé e perseverança nós conseguimos superar tudo. Além dessas mulheres, conheci pessoas igualmente incríveis e que foram fundamentais na construção do meu trabalho. Obrigado a todos que deixaram a minha estadia em Belém ainda mais doce.

Nazaré
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